segunda-feira, 11 de maio de 2009

Crítica sobre Chapetuba F.C.


O Poder Transformador do Teatro
Crítica / Ensaio de Jair Alves















Foto do arquivo pessoal de Maria Tereza Vargas - montagem de 1959

Ao assistir à sessão especial de Chapetuba Futebol Clube, no teatro Eugênio Kusnet (ex-Arena), não tenho outra palavra para aqui registrar, a não ser a expressão IMPRESSIONANTE. Escrevo isso pelo que vi no palco, na interpretação dos dez atores que compõem o elenco. Disse em público (e repito aqui), que só vi algo semelhante, naquele mesmo teatro, na estréia nacional de Na Carrera do Divino, no ano de 1979. Os atores, nesta sexta feira, deram à impressão de ter entrado em cena, para o tudo ou nada. Para os estudiosos de nossa Cultura, é possível afirmar que está recuperado ali, nessa representação, todo o vigor do Grupo Arena, em suas inúmeras singularidades de meio século atrás. A preocupação do autor Oduvaldo Viana Filho em balancear os personagens, dando a eles igual importância na trama, traduz os objetivos do Grupo, na época. Posso dizer, sem risco de errar, que esta montagem (aqui e agora) é o melhor exemplo de Arte que se produzia há cinqüenta anos atrás, no Brasil.

Paradoxalmente, ela nos leva a uma reflexão um tanto quanto sofisticada a respeito de nossa realidade atemporal. A primeira delas, é quanto à leitura pessimista de tudo o que está ao nosso redor. A partir daí, vem o nosso dilema: se há meio século nós víamos uma parcela da população ali representada no palco, desorientada; manipulada; desesperada - ainda que esperançosa; agindo apenas pelos interesses imediatos de sua existência, o que dizer, hoje, de um pathus social do agora, que se desenvolveu e virou indústria ou peça dessa mesma engrenagem comercial? Que saída nós teremos, se compararmos esses dois períodos históricos?

Em sua intervenção, o ex-atleta do Corinthians, Wladimir, presente ao debate que sucedeu à apresentação afirmou acertadamente que aquele time de futebol ali representado no palco não poderia ser de forma alguma campeão, se não resolvesse todos os conflitos internos como os que se viu. Perguntamos como esses mesmos problemas se manifestam, na atualidade? Os pequenos clubes de futebol, do interior do Brasil, ainda dependem do patrocinador; do dono da emissora de rádio; da Federação Paulista de Futebol, ou esses clubes - alguns já centenários - se transformaram em grande fonte de renda para os empresários, que nada têm a ver com a paixão do torcedor que teimosamente ainda lota os Estádios? Em que medida a Arte consegue refletir essas contradições internas e levá-las para a cena do teatro, sem o risco de ser considerada panfletária?

A resposta talvez seja clara, dura, no entanto de ser assimilada: a população precisa se organizar e se fazer representar, objetivamente. Wladimir, conhecido pela sua atuação extracampo prova que é possível reivindicar, ser bem sucedido e também feliz. O seu sorriso iluminando àquela sala quase escura contrastava com o semblante carregado dos personagens em cena.

Fica aqui uma questão a ser debatida: os artistas que tiveram uma orientação da esquerda ortodoxa, como Oduvaldo Viana Filho, conseguiram de fato visualizar um futuro melhor, ou será que a realidade vivenciada por nós entre a estréia de Chapetuba, há cinqüenta anos e os dias atuais, demonstrou ser mais rica em alternativas? Lamentavelmente, ele nos deixou cedo demais para que pudéssemos confrontar seus experimentos. Como se vê, é imperativo que outras montagens com o mesmo rigor profissional venham à cena, como Rasga Coração, por exemplo.

Nesta sessão especial, tivemos à presença de outros personagens, ao vivo, que reinventaram o Brasil Moderno: o citado atleta, Wladimir; a atriz Etty Fraser; o jornalista Alberto Helena Jr. e como contraponto, a grande promessa do jornalismo esportivo, André Rizek. Pena que o adiantado da hora, não nos permitiu retirar mais opiniões desses ilustres convidados.

Quanto ao elenco, difícil destacar um deles, pois como já foi dito todos entraram em cena para decidir não um campeonato da Segundona, com cartas marcadas, mas uma decisão de Copa do Mundo. A exaustão com que os atores que interpretam Durval e Cafuné saem de cena, é a prova de sua dedicação à profissão. O mesmo pode se dizer, dos demais.

Algo especial, a respeito do Autor. Falou-se muito da sua habilidade para colocar, em cena, os dramas humanos. Não esquecer que ele foi filho de Oduvaldo Viana e Deocélia Viana, exímios redatores de rádio novelas e melodramas, das décadas de quarenta e cinqüenta, num tempo em que a influência lusitana e mexicana era muito forte na cultura brasileira. Vianinha aprendeu a arte no berço, de onde também aprendeu a amar a Humanidade. Lamentavelmente, ele não chegou a conhecer todos os efeitos da industrialização do país, nem seus melhores expoentes. Wladimir, é um deles.



Quanto a José Renato, é preciso dizer: feliz é a Nação que tem à oportunidade de ver o criador de um dos pontos artístico cultural mais importantes do país voltar ao Ponto de Partida, cinqüenta anos depois. E, com a quase mesma vitalidade de quando começou, reinventar com dezenas de criaturas especiais o Brasil que se vive hoje.

Publicada em:
http://cooperativa7985.ning.com/group/chapetubafc/forum/topics/o-poder-transformador-do

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