domingo, 9 de novembro de 2008

Um depoimento sobre o processo


Por Fernanda Sanches

Desde agosto acompanho a montagem da peça Chapetuba F. C. de Vianinha dirigida por Zé Renato. Acompanho olhando, ouvindo, escrevendo, comentando, conversando, propondo reflexões aos atores da peça, muitas delas assim, entre uma cena e outra, pelos corredores, nas coxias desse teatro sem coxias.

O Teatro de Arena, tão pequeno e aconchegante, que nos acolhe dia a dia e que guarda tantas histórias em suas paredes agora pintadas metade de branco, metade de azul separada por uma tirinha laranja, para o cenário da peça; tantas memórias por baixo dos bancos pretos da platéia, dentro da cabine de som, em cada luz que se acende, em cada voz que ouvimos pelo espaço.

Um certo fantasma andou aparecendo por aqui, visto por mim e por outros do grupo. Nos arrepiamos e nos perguntamos: “será alguma alma dos tempos áureos ainda viva por aqui?” A moça da limpeza ficou apavorada e agora morre de medo de ficar sozinha dentro do teatro. Os porteiros já estão acostumados, sempre ouvem barulhos, portas que batem, corpos que caem, ensaios invisíveis por todo o Arena.

Mantenho os olhos abertos e a escuta atenta para que o Zé possa tecer seus comentários baixinho no meu ouvido e eu como assistente, anoto, anoto e anoto, por vezes adivinho as palavras que não consigo ouvir para não o interromper durante a passada geral da peça. Meu texto está se tornando quase um livro, com anotações e mais anotações das preciosidades ditas por um mestre tão íntegro e sensível: seus comentários, sugestões, opções, direções, caminhos, marcações...

E nós aqui, a maioria jovens atores, revivendo essa história do teatro brasileiro ainda tão viva. Mergulhando de cabeça nesse texto difícil que é o Chapetuba F. C. - passamos por várias atribulações externas nesse caminho - mas estamos aqui, firmes, com a bola no pé, driblando e jogando. Nós, que não jogamos futebol – a paixão nacional, jogando com a nossa paixão - o teatro – paixão que às vezes se mostra cambaleante, noutras vezes excitante...

Eu e a Elis com a nossa vontade de atuar, ávidas por também errar, tentar, criar, jogando do jeito que a gente pode: ajudando, propondo exercícios corporais, opinando, relembrando marcações e textos para todos.

E a bola Chapetuba rolando, está chegando o final do segundo tempo do período dos ensaios, agora é jogo de verdade, com o público e vamos driblando, driblando, driblando...

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